<p><em>O Último Banquete da República</em> é um romance de narrativa não linear em que tempos e vozes se entrelaçam num mosaico fragmentado. Com humor ácido e ironia melancólica a obra mistura crônica sátira e memória para revelar em cada cena mais do que uma história: um retrato desconcertante do nosso próprio tempo.</p><p>A estrutura do livro alegórica e satírica faz da gastronomia uma metáfora central para falar do que mais indigesta o país: poder omissão e a vaidade intelectual dos que já se acostumaram a jantar sobre ruínas. Ao reunir políticos acadêmicos e tecnocratas em torno de uma mesa metafórica - ou nem tanto - o autor oferece mais que uma história: serve uma denúncia requentada mas servida com requinte.</p><p>A linguagem é afiada cheia de referências e por vezes tão saborosa quanto perigosa. Há humor ácido lirismo ocasional e uma erudição que em certos momentos ameaça devorar a própria narrativa. Mas quando acerta - e acerta com frequência - a sátira se torna bisturi: disseca com precisão e elegância a comédia trágica da elite pensante.</p><p>O livro se move como uma peça de teatro: tem entrada prato principal e digestivo. Literal e simbolicamente. E se a ação é contida é porque o que se move de fato são as ideias os ressentimentos as farsas - tudo isso sob a sombra de um <em>Cozinheiro</em> enigmático que pode ser deus demônio ou editor fantasma da República.</p><p>Entre os muitos sabores alguns se destacam: a crítica ao demagogo que denuncia aquilo que consome; a metáfora da comida como instrumento de dominação; a culpa tratada como herança cultural.</p><p>O livro nos faz rir mas de um riso de canto de boca - o tipo de riso que vem logo antes do arrependimento.</p><p>Sim há excessos. Às vezes a receita filosófica fermenta demais. Em certos pontos os personagens são mais tese do que gente. E a estrutura fragmentada por mais que sirva à intenção alegórica por pouco não vira ressaca. Mas nada disso compromete a intenção maliciosa do autor: provocar desconforto em leitores bem alimentados de certezas.</p><p>No fim <em>O Último Banquete da República</em> é uma obra que desafia e incomoda. Não serve pratos leves nem figuras retóricas fáceis. Prepare-se para metáforas que dão mais trabalho para digerir que certos cortes bovinos diálogos que parecem saídos de um chá da tarde da <em>Suprema Corte</em> e capítulos que alternam entre o riso desconfortável e o suspiro existencial. Muitas vezes você será instigado a interpretar o silêncio entre as palavras a mastigar metáforas como quem ouve uma música dissonante - ciente de que o desafino é deliberado e carregado de sentido.</p><p>Se você procura leveza recomendo uma salada.</p><p>Este livro é feijoada filosófica - com farofa torresmo e aquele pedaço misterioso que ninguém sabe se é carne metáfora ou sentença.</p><p>No fim é possível que você feche o livro se perguntando se leu uma obra de ficção uma ata de reunião do <em>Congresso</em> ou apenas o menu degustação da história recente do país.</p><p>Bom apetite.</p><p>E boa sorte na digestão.</p>
Piracy-free
Assured Quality
Secure Transactions
Delivery Options
Please enter pincode to check delivery time.
*COD & Shipping Charges may apply on certain items.