Último Disfarce

<p><span style=background-color: rgba(255 255 255 1); color: rgba(40 40 40 1)>Choveu a noite inteira. Não uma chuva decente frontal mas uma espécie de respiração húmida que se infiltrava pelas frestas da varanda e me irritava os ossos. A pedra ainda pinga. E eu sem sono sem remorso só com aquela inquietação mansa de quem não sabe se sobreviveu à noite ou apenas não morreu o suficiente.</span></p><p><span style=background-color: rgba(255 255 255 1); color: rgba(40 40 40 1)>Ontem à mesa o silêncio era mais denso que o vinho. A Francesca falou pouco. Os olhos dela sempre meio nublados perscrutavam qualquer coisa em mim como se procurassem uma falha um tremor ou uma resposta que nunca prometi dar. Disse-me que voltava hoje. Ou talvez não tenha dito nada. Já não distingo o que se diz do que se deseja que tivesse sido dito.</span></p><p><span style=background-color: rgba(255 255 255 1); color: rgba(40 40 40 1)>A Mariangela não apareceu. Nem uma mensagem. Nem uma ausência explícita. Só o vazio dela - esse sabe sempre chegar pontual quase elegante. A ausência dela tem cheiro. Um perfume seco com notas de ironia e manjericão - um rasto que me encosta ao que nunca soube ser.</span></p><p><span style=background-color: rgba(255 255 255 1); color: rgba(40 40 40 1)>Saí antes da luz. Levei o casaco castanho o das noites frias em Ferrara aquele que ela uma vez me arrancou no corredor de um hotel sem nome. Estava calor mas precisei dele. Era como se o tecido soubesse coisas que a pele já esqueceu.</span></p><p><span style=background-color: rgba(255 255 255 1); color: rgba(40 40 40 1)>Sentei-me na... </span></p>